quarta-feira, 9 de abril de 2008

Do consumo ao caos - Felicidade não inclusa

Querido (a)Toa,

Não vou dizer que para mim é uma coisa de fácil assimilação, ou mesmo que eu tenha uma atração por essa matéria, a Filosofia, mas de vez enquando ela nos surge com algumas coisas simples e interessantes, é o caso de hoje...
Você já ouviu falar no Epicuro? Gente boa esse jovem aí. Na verdade o rapaz já morreu tem bem alguns séculos antes de cristo, mas não é bem isso que fez com que ele fosse esquecido. Mesmo que a história tenha se encarregado de dar sumiço em 300 obras dele, sobraram algumas cartas que ele escreveu e alguns de seus entusiastas que formam uma linha de seguidores fiéis desde aqueles tempos antes do Messias nascer. Hoje em dia o cara é lembrado em todas as aulas de filosofia e cursos de motivação por aí (não que eu seja fã de qualquer um desses dois).
A idéia dele não é das mais complicadas. Alias, simplicidade é uma palavra que se encaixa melhor na escola Epicurista, como batizaram a sua filosofia.
Epicuro queria mesmo era ser feliz. E mais: queria que as pessoas entendessem que o dinheiro não era um fator determinante na construção desse sentimento bom.
Eram três fatores cruciais que ele dizia que transformaria as pessoas:
1 - Os amigos e as relações afetivas/amorosas.
2 - A liberdade e a independência financeira, tanto no sentido de não precisar de dinheiro para viver, quanto no sentido de ter tanto dinheiro a ponto de não se preocupar com isso.
3 - A filosofia e a reflexão individual. A análise de sua vida e de seus atos.

Seria essa a tão esperada fórmula da felicidade?

Ele era um filósofo, por tanto, ao contrário de impor alguma coisa, colocava as pessoas para pensarem e tirarem suas próprias conclusões. O que faço agora, mesmo não sendo um filósofo e nem nada do tipo.

Hoje em dia, com excessão dos evangélicos carismáticos, é difícil encontrar alguém que diga com gosto que é feliz, principalmente aqui em São Paulo, onde o clima, o trânsito e as pessoas sem educação favorecem o emputecimento de qualquer um. (Alias, um comentário a parte: como esses evangélicos carismáticos são felizes né, desconfio que alguma sessão de massagem tântrica aconteça por trás das cortinas do pastor viu... com todo respeito!)

É foda dizer isso, mas vamos lá: A Publicidade é e sempre foi uma das principais responsáveis pela infelicidade humana. Outro responsável é o próprio ser-humano, babaca, que cai que nem um pato nas apelações da propaganda.
Sei que de certa forma estou condenando um pouco o curso que faço e a profissão que exerço, mas se é pra falar, melhor que eu fale de uma vez o que penso.
Será que nunca ninguém reparou direito qual é o apelo da propaganda?
Sempre a mesma coisa: relações afetivas/amorosas (convívio social, mulheres e homens conversando, amigos bebendo cerveja, discussões, piadas), liberdade (independência financeira, quebra de regras e barreiras, facilidades para sua vida), reflexão e individualismo (tempo para pensar, tranquilidade, sono, conforto individual).
Agora reveja as 3 principais coisas que Epicuro falou no começo desse post.

A gente (falo como publicitário), já sacou isso faz tempo. Antes mesmo de Cristo nascer, as propagandas já mostravam que o consumo te trazia ingrediente-a-ingrediente tudo aquilo que você precisa para ser feliz. Só que você (a)Toa acredita que para ter amigos precisa tomar um Rum Bacardi com eles; para ter liberdade precisa ter um tênis Nike no pé para sair correndo por aí que nem um idiota; e para ter um momento de reflexão individual precisa tomar um belo copo de Jhonnie Walker sozinho em casa depois do trabalho.

Não estou dizendo que essas coisas não são boas, muito pelo contrário: por ter nascido em um meio de consumo e ter crescido cercado por essa sociedade, sinto necessidade de tudo isso. Eu quero sim armar o buteco e tomar uma Skol com os meus amigos para trocar uma idéia, alias, quero fazer um monte de coisas que mostram nas propagandas... me diga de verdade: Quem não quer? Mas a real é que os frutos do consumo são só acessórios para a felicidade real.

É uma coisa banal que até dispensa um post ? Até pode ser. Mas desconfio que muita gente ainda não entendeu bem o que é ser feliz. Não é a toa que surgem tantas falsificações de tênis, relógios, jóias, roupas e do que mais você puder imaginar por aí. Mais do que isso: o consumo também é responsável por boa parte da violência e corrupção (não só na política) espalhada por esse mundo.

O mais pobre também quer felicidade. Ele também quer ter tudo aquilo que ele vê nas pessoas sorridentes que estão estampadas no outdoor e que desfilam nas propagandas e novelas. Agora me diz: se não por muita sorte, por qual meio lícito o indivíduo alcança a felicidade dos anúncios? Acho que nenhum.

O modelo de consumo que o mundo prega hoje, é um modelo suicida, que peca por oferecer mais bens de consumo do que oportunidades para adquirí-los.

(a)Toa, você não vai mudar o mundo, mas pode pelo menos entender o quão podre é a maça que você come por dentro.

Boas compras. Se entupa de bens de consumo para preencher o vazio que existe dentro de você.

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