quinta-feira, 21 de junho de 2012

Não vou fazer apresentações...

A Luís Maurício, Infante - Carlos Drummond de Andrade

Acorda, Luis Mauricio. Vou te mostrar o mundo,
se é que não preferes vê-lo de teu reino profundo.

Despertando, Luis Mauricio, não chores mais que um tiquinho.
Se as crianças da América choram em coro, que seria, digamos, do teu vizinho?

Que seria de ti, Luis Mauricio, pranteando mais que o necessário?
Os olhos se inflamam depressa, e do mundo o espetáculo é vári

e pede ser visto e amado. É tão pouco, cinco sentidos.
Pois que sejam lépidos, Luis Mauricio, que sejam novos e comovidos.

E como há tempo para viver, Luis Mauricio, podes gastá-lo à janela
que dá para a “Justicia del Trabajo”, onde a imaginosa linha da hera

tenazmente compõe seu desenho, recobrindo o que é feio, formal e triste.
Sucede que chegou a primavera, menino, e o muro já não existe.

Admito que amo nos vegetais a carga de silêncio, Luis Mauricio.
Mas há que tentar o diálogo quando a solidão é vício.

E agora, começa a crescer. Em poucas semanas um homem
Se manifesta na boca, nos rins, na medalhinha do nome.

Já te vejo na proporção da cidade, dessa caminha em que dormes.
Dir-se-ia que só o anão de Harrods, hoje velho, entre garotos enormes,

conserva o disfarce da infância, como, na sua imobilidade,
à esquina de Córdoba e Florida, só aquele velho pendido e sentado,

de luvas e sobretudo, vê passar (é cego) o tempo que não enxergamos,
o tempo irreversível, o tempo estático, espaço vazio entre ramos.

O tempo – que fazer dele? Como adivinhar, Luis Mauricio,
o que cada hora traz em si de plenitude e sacrifício?

Hás de aprender o tempo, Luis Mauricio. E há de ser tua ciência
uma tão íntima conexão de ti mesmo e tua existência,

que ninguém suspeitará nada. E teu primeiro segredo
seja antes de alegria subterrânea que de soturno medo.

Aprenderás muitas leis, Luis Mauricio. Mas se as esqueceres depressa,
Outras mais altas descobrirás, e é então que a vida começa,

e recomeça, e a todo instante é outra: tudo é distinto de tudo,
e anda o silêncio, e fala o nevoento horizonte; e sabe guiar-nos o mundo.

Pois a linguagem planta suas árvores no homem e quer vê-las cobertas
de folhas, de signos, de obscuros sentimentos, e avenidas desertas

são apenas as que vemos sem ver, há pelo menos formigas
atarefadas, e pedras felizes ao sol, e projetos e cantigas

que alguém um dia cantará, Luis Mauricio. Procura deslindar o canto.
Ou antes, não procures. Ele se oferecerá sob forma de pranto

ou de riso.E te acompanhará, Luis Mauricio. E as palavras serão servas
de estranha majestade. É tudo estranho. Medita por, exemplo, as ervas,

enquanto és pequeno e teu instinto, solerte, festivamente se aventura
até o âmago das coisas. A que veio, que pode, quanto dura

essa discreta forma verde, entre formas? E imagina ser pensado,
pela erva que pensas. Imagina um elo, uma afeição surda, um passado

articulando os bichos e suas visões, o mundo e seus problemas;
imagina o rei com suas angústias, o pobre com seus diademas,

imagina uma ordem nova; ainda que uma nova desordem, não será bela?
Imagina tudo: o povo,com sua música; o passarinho, com sua donzela;

o namorado com seu espelho mágico; a namorada, com seu mistério;
a casa, com seu calor próprio; a despedida, com seu rosto sério;

o físico, o viajante, o afiador de facas, o italiano das sortes e seu realejo;
o poeta sempre meio complicado; o perfume nativo das coisas e seu arpejo;

o menino que é teu irmão, e sua estouvada ciência
de olhos líquidos e azuis, feita de maliciosa inocência,

que ora viaja enigmas extraordinários; por tua vez, a pesquisa
há de solicitar-te um dia, mensagem perturbadora na brisa.

É preciso criar de novo, Luis Mauricio. Reinventar nagôs e latinos,
E as mais severas inscrições, e quantos ensinamentos e os modelos mais finos,

de tal maneira a vida nos excede e temos de enfrentá-la com poderosos recursos.
Mas seja humilde tua valentia. Repara que há veludo nos ursos.

Inconformados e prisioneiros, em Palermo, eles procuram o outro lado,
E na sua faminta inquietação, algo se liberta da jaula e seu quadrado.

Detém-te. A grande flor do hipopótamo brota da água – nenúfar!
E dos dejetos do rinoceronte se alimentam os pássaros. E o açúcar

que dás na palma da mão à língua terna do cão adoça todos os animais.
Repara que autênticos, que fiéis a um estatuto sereno, e como são naturais.

É meio-dia, Luís Maurício, hora belíssima entre todas,
pois, unindo e separando os crepúsculos, à sua luz se consumam as bodas

do vivo com o que já viveu ou vai viver, e a seu puríssimo raio
entre repuxos, os “chicos” e as “palomas” confraternizam na “Plaza de Mayo”.

Aqui me despeço e tenho por plenamente ensinado o teu ofício,
que de ti mesmo e em púrpura o aprendeste ao nascer, meu netinho Luis Mauricio.

Carlos Drummond de Andrade.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Com as luzes acesas

(livre interpretação)

ACENDA AS LUZES

Quero enxergar de olhos fechados

Me tire do quarto

Vou além dos espaços quadrados


ACENDA AS LUZES

Faça as púpilas ficarem gigantes

Só mais um quarto

E vou além desse nosso quadrante


Onde as notas soam como ondas

E luzes brilham como felicidade

As borboletas caem tontas

Derretem em cores à sua vontade


Acenda as luzes

Me tire do quarto

Acenda as luzes

Só mais um quarto


Wago Figueira

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Constatações babacas (senso comum) sobre o cotidiano monótomo

Querido (a)Toa,

Voltaram a falar daqueles cartões. A galerinha foi presa, o zé povinho foi la pra descontar sua raiva e sua falta de sexo. Agora esta tudo fluindo que é uma maravilha, com excessão do transporte público... Ahhhhh.... esse ai esta deixando muito a desejar. Ontem foi aquela greve gostosa de motoristas da sptrans.
Quando o metro para, ainda vá lá, mas quando os busos param, meu amigo... reze pra que eles voltem logo. Ontem graças ao bom Jah Rastafari o sindicato resolveu abolir a mini greve até as 14hs... tranquilo.
Mais greve é um dos direitos trabalhistas que mais me admiram.
Parece que é folga, mas não é não. Tem muita gente por aí que não ganha o que merece. Mais gente ainda que consegue fazer milagre com o salário mínimo.
Não sei como é possível. Eu que recebo mais que o salário mínimo não consigo me virar sozinho, imagina uma família com isso... Muito queria saber qual é o padrão de vida desses milhões de brasileiros que fazem a magia da muliplicação dos pães.
Nossa vidinha é meio babaca...
Eu acordo 9hs da manhã para chegar aqui na agência 10hs. Pego apenas um onibus, tranquilidade, caio fora na Faria Lima e já estou na porta. Trabalho até a hora que for preciso e se der tempo vou pra faculdade saio as 10:20pm e sigo pra casa a pé, levando cerca de 5minutos quando não paro no bar pra afogar as mágoas. Em casa troco uma idéia, tomo um banho e vou dormir, pronto pra mais um dia...
Uma sexta dessas eu fui em um bar de samba de raiz perto do Sesc Pompéia, se eu não me engano...
O cara que estava cuidando do carro da minha carona estava lá firme e forte às 5hs da manhã de um sábado... eis que falei: Pow amigo, tá tarde, hora de dormir já né?! Estamos todos cansados.
A resposta me surpreendeu:
Ishhh, tem coisa pela frente ainda, daqui eu vou pra obra lá no Ipiranga. Também sou pedreiro.
Perguntei se ele dormia de vez enquando e ele me repondeu:
Pra que ficar dormindo? Duas horinhas tá bom!
Pois é, imagina se esse cara faz sexo?

Esse(s) luxo(s) é(são) pra poucos.

Pense nisso!

Abs.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Joguemos Isabellas pelas janelas da imprensa

Querido (a)Toa,

"Isabella, a pobre coitada criança!" Pois é... isso que se escuta por aí sem parar.
Você aguenta? Eu não aguento mais...
São esses os famosos furos de imprensa: um descobre, comenta, outro gera a notícia, alguém espalha, a mídia vai a fundo e lá vai o povão brasileiro todo atrás do caso. É o Big Brother em um estado mórbido e evoluído.
Não estou colocando em questão a seriedade e o tamanho da tragédia, mas só queria um minuto de reflexão sobre os tantos outros casos ocorridos diariamente que nem geram notícia. Para quem não sabe, pelo menos 2 crianças morrem no Brasil diariamente vítimas de violência doméstica, sem contar os casos bizarros de mutilações e castigos dos mais diversos.
A população parece a cada dia mais cair na histórinha do Jornal Nacional, seus editores (leia: Willian Bonner), amigos e demais programas dos veículos de comunicação.

Notícias populares... o povão adora uma tragédia, como já não bastasse a tragédia de sua própria existência.
Prepare-se para ver muitas Isabellas sendo jogadas pela janela, no rio, presas em cativeiro, estupradas no parque, espancadas na saida da escola... blah, blah, sangue, morte e violência. Com tanto que ela seja de classe média pra cima, por que não?

Alguém sabe me dizer qual foi o fim dos cartões corporativos?Idiotas! Quero o meu dinheiro de volta.

Pão e Circo pro povo! EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!

De volta! Por tempo escasso e determinado (1h)

Pensei que fossem apenas 2 dias, foram quase 2 semanas. Agora, finalmente, tenho alguns minutinhos pra respirar. O sono impera, essa é a mais pura das verdades.
Dizem que o trabalho dignifica o homem, eu diria mais, além disso ele também destrói o homem. Cara, estou acabado, olha que ainda tem muita coisa pela frente, mas o negócio é não reclamar, por que se estou na situação que estou é porque eu quero, afinal, tem muito trabalho mais fácil por aí que me pagaria até mais do que aqui...
e o que importa?

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Bom final de semana

Por 2 dias pelo menos quero disttancia do computador. Proximidade das pessoas que eu amo.

Bilolas, bilolas, brisas e marolas doidas - Versao 1.0

Uma prosa para (a)Toa,

Toda Hora Calmo mas sempre alerta e Louco Sem Destino. Cana e bis na mochila pra acabar com a sede e a fome do menino.
Baseado no que é certo, na viagem fui além. A trilha sonora é um Mantra De Músicas Antigas, que um dia fiz não sei pra quem.
Fiquei perdido, mas me encontrei Com o Gú e o Mello. Vi aquela placa ao longe e Li: "Rio de Caramelo"
A água era bem Doce, mais doce até que Bala. Melhor que isso nem uma larica feita pelo Alex Atala.

TO BE CONTINUED...